A Deliciosa e Sangrenta Aventura Latina de Jane Spitfire by Augusto Boal
My rating: 2 of 5 stars
A sátira de Augusto Boal tem altos e baixos. A narrativa é construída em torno da espiã Jane Spitfire, a melhor espiã de todos os tempos, a mais linda, a mais inteligente, a mais habilidosa, a mais tudo e qualquer coisa. Infelizmente, apesar da protagonista feminina, Boal falha com a representação feminina em seu primeiro e único romance policial.
Jane é uma personificação do imperialismo estadunidense e, portanto, sua trajetória é justamente implementar as vontades de sua pátria em um pequeno país fictício da América Latina. Como ponto positivo, a narrativa constrói situações e descrições muito condizentes com a realidade brasileira e de seus países vizinhos na década de 1970 (quando o livro foi escrito, originalmente) e, coincidentemente, muita coisa bate com o que ocorre atualmente em nosso país. As fórmulas mágicas que ela precisa encontrar e aplicar para libertar o país daqueles que usam da liberdade para acabar com ela (como ela chama todo o espectro da esquerda, de acordo com o ponto de vista ianque) são bem interessantes. No entanto, as artimanhas utilizadas pela espiã são sempre muito bizarras, para dizer o mínimo.
A personagem concentra em sua personalidade todos os clichês de novelas de espiões (intenção de Boal) e também uma sexualidade exagerada, estereotipada. A ágil protagonista usa e abusa de suas artimanhas sexuais para conseguir tudo o que quer, ultrapassando em muitas cenas as barreiras do absurdo. Como se não bastasse, ela é estuprada um par de vezes e nem sequer reclama do que aconteceu, inclusive reclamando quando não é vista com um desejo malicioso pelos homens da trama, cada qual mais escroto que o outro.
Além dos poucos momentos em que situações de crítica evidente são relatadas, o penúltimo capítulo – em que Jane tem um pesadelo, depois de resolver toda a missão que lhe foi delegada – é, sem sombra de dúvidas, o que me agradou mais. Boal usa o pesadelo da espiã para descrever como a ditadura no Brasil (e todas as ditaduras militares da América Latina) funcionavam. Eu achei esse o melhor ponto do livro todo, e na verdade, para mim, salvou a novela policial de ser um fracasso completo.
Gostei bastante do seu ponto de vista!
Grata por compartilhar!