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Diário (ou quase)

Reflexões sobre um pé na bunda

Hoje faz uma semana que o relacionamento no qual eu mais me permiti terminou.

Tem um momento depois do pé na bunda que a gente começa a ver, mesmo que ainda muito pouco, por trás do véu da admiração. Aí aquela imagem perfeita que a gente cria na nossa mente apaixonada vai se desconstruindo pouco a pouco.

Às vezes vemos que a pessoa em questão nunca gostou realmente de ti e você só se deixou navegar por águas pouco amigáveis por conta de uma idealização. Que foi tudo uma enganação e que você foi só mais uma na rede de conquistas.

Entendo que ter muitos matchs no Tinder, muitos encontros e contatinhos pode ser uma massagem no ego. Mas é só isso mesmo. Quando estamos inseguros, com medo ou passando por alguma coisa difícil é bom ter diversas conversas abertas e pessoas interessadas. Been there, done that. Mas elas não vão te fazer sentir melhor consigo mesma a longo prazo, porque a segurança, autoestima, estar bem não depende do que vem de fora, mas de uma mudança interna.

Eu, quando me entreguei pra esse relacionamento, encerrei todas as conversas pendentes, sequer tive vontade de olhar Tinder. Mas essa sou eu. Não posso exigir o mesmo de outra pessoa. A tentação estava ali. A bengala do determinismo biológico/social que era quase como frase de efeito repetida à exaustão, também. Poderia passar horas problematizando isso, mas vou só falar sobre a palavra que eu tanto ouvi nesses quatro meses: impermanência.

Se tudo é impermanente, é possível mudar e repensar velhos hábitos (aliás, é necessário). Eu fiz isso, de uma forma que jamais tinha imaginado. Repensei coisas que pra mim estavam como dadas e que eu não cogitava serem possíveis mudar em mim. Repensei religião, repensei maternidade… A diferença está no querer ou não querer repensar, querer ou não querer se entregar. E no fim das contas só repensa algo em um relacionamento quem se permite, quem quer se entregar. A pessoa não quis e dói entender que isso aconteceu, porque significa que nunca gostou e nunca quis. Que eu nunca “vali à pena”. Afinal, eu não mereci nem ser recebida com a casa limpa, como o novo date teve a honra de ser. Fui só mais uma história pra contar para o próximo match que engrenar por mais de um ou dois encontros e, nas palavras da pessoa em questão, estiver dating.

Acho até que vou ser uma história positiva. De uma pessoa boa que passou pelo caminho, muito legal e que, como tantas, se apaixonou perdidamente. Algumas das ex são histórias boas. Talvez, só talvez, eu esteja nesse grupo. Porque, afinal de contas, eu já me enganei tanto, posso estar enganada agora também.

Anarca, feminista, vegana, cat lady, bookworm, roller derby, hiperbólica, entusiasta das plantas e constante aprendiz. Rainha de paus, professora de história, amante de histórias. Meu peito é de sal de fruta fervendo num copo d'água. ♀️✊Ⓥ

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Silvia
Silvia
28 de agosto de 2020 8:12 pm

Super te entendo…

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