Reflexões

Violência contra mulher: um pequeno relato

Assim como quase todas as mulheres, desde muito jovem eu fui apresentada a esse mundo que nos trata como inferiores, objetos e, portanto, possíveis de ser violentadas. Então resolvi relatar aqui a primeira vez que ouvi uma briga de casal. Eu ainda era adolescente e não sabia muito bem o que era feminismo, mas já afirmava aos quatro ventos que eu era feminista. Sendo assim, não pude ficar calada com o que estava ouvindo. Foi em 2002, no acampamento do Fórum Social Mundial, aqui em Porto Alegre.

Estava na minha barraca, me arrumando para uma confraternização quando alguns metros adiante começou uma gritaria dentro de uma barraca. Era um cara gritando com sua namorada, chamando a menina de vadia, piranha, que ela estava “se oferecendo”pra alguém do acampamento. Entre gritos, xingamentos, ameaças e choro eu não consegui ficar calada e e comecei a gritar de onde estava (pois não dava para distinguir exatamente onde era) para ele deixar a menina em paz. Aos meus gritos se somaram o de outras tantas meninas nas barracas ao redor. Nenhuma se calou. Os gritos dele pararam, os dela também. Nunca soube o que aconteceu depois.

Espero que tenha ficado tudo bem e que ela tenha saído sem traumas daquela situação. Infelizmente essa não e a realidade da maioria dos casos de violência contra mulher. Muitas vezes um grito de socorro é ouvido, mas por medo ou alguma outra coisa além do nosso controle, é ignorado.

Isso aconteceu em um ambiente que se pretendia democrático, inclusivo, contra violência, de jovens que queriam fazer alguma mudança no mundo. Imagina o que acontece dentro de milhões de lares Brasil e mundo afora. Então pense muito bem antes de difamar, menosprezar ou ignorar a luta das mulheres, o feminismo e as conquistas das minorias. Graças à batalhas do passado e do presente eu pude me manifestar naquele momento e posso fazer esse relato agora. Mas nem por um instante pense que direito é garantia, eles continuam existindo porque ainda há luta. E se existe luta, eu me somo a ela.

Nas ruas de Montevidéu em julho de 2016

Anarca, feminista, vegana, cat lady, bookworm, roller derby, hiperbólica, entusiasta das plantas e constante aprendiz. Rainha de paus, professora de história, amante de histórias. Meu peito é de sal de fruta fervendo num copo d'água. ♀️✊Ⓥ

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