Quase uma semana depois da midseason de Doctor Who ainda não consegui me recuperar. Durante o episódio eu chorei, sorri, fiquei tensa e surpresa muitas vezes. Logo nos primeiros minutos, antes mesmo da abertura, Amy Pond me fez chorar com um discurso lindo. O episódio começa como um conto de fadas, com Amy conversando com sua filha sobre um homem que nunca vai parar de olhar por ela, um homem que têm centenas de anos e que esse homem é seu pai, ele não é conhecido por seu verdadeiro nome, mas como O Último Centurião.
Estilisticamente o episódio traz a sensação de épico da season finale da quinta temporada, The Pandorica Opens e The Big Bang. Mas, desta vez o centro da história é a batalha pela posse de Amy e sua querida filha Melody, que, como o Doutor descobre nesse episódio, foi concebida – ao que parece – na TARDIS e, assim, de alguma forma adquiriu um traço genético dos Senhores do Tempo. Por isso Amy foi sequestrada, para que sua filha fosse usada como arma contra o Doutor.
A história começa com o doutor já ciente do perigo da batalha que enfrentará. Seus inimigos sabem que ele está chegando, que estão lidando com alguém que tem a reputação de um ser quase mítico. Eles só podem se preparar para o pior. O Doutor, por sua vez, está cobrando alguns favores que certos amigos e até mesmo inimigos devem para ele ao longo de seus pouco mais de 900 anos de vida. O que significa centenas de dívidas. Durante todo o tempo em que vemos seus aliados serem recrutados o Doutor é mantido nas sombras, por 20 minutos nós apenas sentimos a sua presença e o efeito que ele tem sobre o universo.
Essa sequência do recrutamento é muito boa e mostra um universo de aventuras que acontecem mesmo quando o Doutor não está por perto. Essa sequência também nos dá a oportunidade de conhecer mais sobre os carcereiros de Amy. Como um grupo de clérigos é apenas um grande grupo de soldados, mas sabemos que eles também são indivíduos recrutados quase sem saber porque e de forma enganosa. Aprendemos que estas não são apenas os maus ou vilões, são pessoas.
Enquanto isso, Rory, o Romano, foi atrás dos Cybermen para descobrir onde sua esposa estava. E como eu já mencionei aqui, eu sempre espero um ato heróico do Último Centurião Rory. E mais uma vez ele nos brinda com sua bravura e parte para a batalha. E usando a roupa de Centurião. Em um diálogo com River Song ele menciona o motivo da roupa e vemos ali o menino frágil e apaixonado de sempre, impelido pelo Doutor a usar o traje, mas no fundo ele é mesmo aquele Centurião, que esperou por 2000 anos sua amada.
E temos um poema, divulgado antes mesmo do episódio ir ao ar, que traz um novo elemento para o universo de Doctor Who:
Demons run when a good man goes to war
Night will fall and drown the sun
When a good man goes to warFriendship dies and true love lies
Night will fall and the dark will rise
When a good man goes to warDemons run, but count the cost
The battle’s won, but the child is lost
E é também um bom resumo para o que está por vir no episódio. Assim, vemos o Doutor bem irritado pela primeira vez. Pelo menos na primeira vez em muito tempo. Eu não tenho muita certeza se ele já não esteve com raiva antes, mas o próprio Doutor diz que esse sentimento é novo para ele. Esta é uma maneira apropriada para um episódio que tem muito a ver com o quão longe os personagens chegaram. O Doutor tornou-se uma figura tão temida que ele está mudando a definição da palavra do médico curandeiro para guerreiro. E o momento em que River diz isso pra ele é tão intenso que me fez pensar em todos arcos da série até aqui e traçar na minha mente essa caminho que o Doutor tomou.
[insira aqui a voz e entonação de River Song] SPOILERS!
A maneira como o Doutor e seu pequeno grupo de amigos invade o quartel general e o esvazia é incrível. E o primeiro encontro entre Rory e Melody é tão lindo, quando ele diz pra ela que queria ser cool é tão fofo (mas ainda mais fofo é quando Amy diz para Rory que um homem vestido de Centurião, que a esperou por 2000 anos e agora voltou para resgatá-la é muito cool). Outro encontro encantador é o Doutor com o bebê: “I speak baby”! Ótimo. O Doutor deu seu berço para Melody, só não entendi muito bem porque exitar em falar sobre a quem o tal berço pertencia ou sobre filhos. Ele já falou sobre isso com Rose, por exemplo.
Este período mais descontraído de reuniões e aparente finais felizes só desestabiliza ainda mais o espectador. Afinal, tudo foi fácil demais. Os sobreviventes da batalha são novamente atacados pelos monges sem cabeça. Mas o pior ataque foi o fato do bebê que Amy tinha em suas mãos era de carne. Quando aquele bebê explodiu em um líquido branco cortou meu coração. É Steven Moffat esmagando nossos coraçõezinhos.
A razão pela qual Madame Kovarian quer ter uma arma para usar contra o Doutor ainda é nebulosa, pois, embora sua caracterização como vilã seja muito boa, sua motivação me pareceu um pouco pobre. O mesmo falo sobre a presença dos monges sem cabeça. Quem ou o que eles são exatamente e o que eles querem?
O clímax do episódio é a resposta da grande pergunta “Quem é River Song?”. Quando a possibilidade de Amy estar grávida nos foi apresentada, milhares de teorias começaram a pipocar pela internet. Uma delas foi a de que sim ela estaria grávida e ela seria a mãe de River Song. A revelação foi muito bem feita, a brincadeira com os nomes Melody Pond (Melodia e Lago) e River Song (Rio e Canção) e a história de o povo da floresta não ter um nome para lago porque a única água que corre por lá é o rio foi muito bacana. E isso já tinha sido prenunciado em The Doctor’s Wife com a mensagem misteriosa da TARDIS/Sexy de que a água que corre na floresta é apenas no rio.
Agora nós sabemos que de fato é River Song. Sabemos seu início e seu fim. Mas ainda não há muito que não sabemos sobre ela. E essa é certamente a melhor resposta, a que suscita mais perguntas. Então River Song é a pequena menina no traje de astronauta em The Impossible Austronaut e Day of the Moon? Se ela pode regenerar, porque não o fez no episódio Forest of the Dead da quarta temporada? Será que o Doutor irá devolvê-la aos pais ainda bebê para ser criada por eles? Por que ela passa a maior parte de sua vida adulta na prisão? Qual é a sua relação com o Doutor? Foi ela que matou o Doutor no início da temporada? (o que explicaria a frase “é claro que não” quando ela não consegue deter o astronauta logo depois dele ter matado o Doutor do Futuro) Seria por isso que ela foi para prisão? River Song ainda é um personagem enigmático.
As atuações, como sempre, foram surpreendentes. Alex Kingston foi maravilhosa no inicio do episódio quando retorna de seu aniversário e liga para os guardas pedindo para que parassem com o alarme pois ela estava invadindo e não fugindo. E logo em seguida tendo de negar o pedido de Rory para auxiliar o Doutor na batalha carregando o terrível fardo de saber mais do que aqueles ao seu redor e ser incapaz de poupá-los da dor do que está por vir. Arthur Darvill foi mais do que convincente na sua transformação em herói de ação, ele foi estupendo, especialmente na cena inicial na qual ele intimida Cybermen. Karen Gillian teve de retratar uma série de emoções ao longo do episódio e o fez muito bem, especialmente na cena em que ela culpa o Doutor pela perda de sua filha.
Mas, novamente, o destaque é de Matt Smith. Uma das melhores coisas sobre a sua caracterização do Doutor é dificuldade com as emoções humanas. Não porque ele não as tem, mas porque elas são tão poderosas que ele tem dificuldade em controlá-las ou saber como agir em relação a elas. O doutor está cheio de raiva justificada durante grande parte do episódio. Até que no final do episódio River Song obriga-o a enfrentar as consequências do que ele fez. Ele cultiva uma reputação temível. Ele faz com que o inimigo corra apenas com a mera menção de seu nome. Como ele poderia estar surpreso com o fato de estarem tentando criar uma arma tão poderosa para combatê-lo? E a pergunta fundamental de River para ele é: É este o homem que ele quer ser?
Isso tudo é apenas a midseason, há ainda muitas questões a serem respondidas, e a principal, ao meu ver, diz respeito a morte do Doutor em The Impossible Astronaut. A pausa até Setembro será uma tortura, mas em Moffat eu confio e tenho certeza que a espera valerá a pena. E muitas perguntas ficam no ar para serem respondidas na próxima metade da série. Todas as já mencionadas a respeito de River Song. O Doutor resgatará Melody Pond sozinho na TARDIS? Amy e Rory juntarão-se a ele novamente? Haverá alguma mudança em seu comportamento agora ele sabe o que se tornou? Quem está por trás desse plano? O Silêncio tem alguma coisa a ver com tudo isso?