Em 1968 o mundo inteiro se viu sacudido por uma série de mobilizações de estudantes e trabalhadores. Nesse ano o mundo foi palco da luta dos Panteras Negras nos Estados Unidos, lutas estudantis e operárias em quase toda a Europa, no Canadá e no Japão e da Primavera de Praga. Na América Latina esse ano também deixou marcas profundas, inclusive no Brasil. Mas o acontecimento mais lembrado é, sem sombra de dúvidas, o Maio de 1968 na França. E o cinema teve uma imporatância muito grande como estopim de toda a turbulência política, econômica e cultural em que a França se encontrava. Foi a explosão de um processo de lutas da juventude e dos trabalhadores contra o governo francês. Greves, ocupações, manifestações, barricadas, contra cultura e enfrentamentos se espalharam por toda a França naquele mês e abalaram o país.
Mas engana-se aquele que atribui tais acontecimentos à espontaneidade das massas. O ano de 1968 foi fruto de um processo histórico. A França viva uma profunda crise pós 2º Guerra Mundial, um regime político semi-ditatorial (General De Gaulle), a perda de suas principais colônias (Argélia e Vietnã) e o envolvimento em guerras de efeitos desastrosos. A população vivia em crise econômica: baixos salários e uma jornada de trabalho muito longa, índices de desemprego assustadores, problemas de habitação e infra-estrutura, e uma crise no sistema educacional (falta de vagas nas universidades, o anúncio de uma reforma que introduziria um sistema de seleção e exames de ingresso e desqualificação de diplomas de algumas Universidades). A própria constatação dessa crise descarta a tese de que tal revolta tenha sido motivada apenas pela busca de liberdade da juventude.
É envolto neste clima que estudantes e trabalhadores de toda a França levantam barricadas pelas ruas, ocupam fábricas e universidades, gritam aos quatro ventos que é proibido proibir, fazem greves e são duramente reprimidos pelas tropas de choque da polícia. As ocupações nas fábricas ocorrem contra o interesse reformista da maior central sindical francesa da época, a CGT, que era burocraticamente controlada pelo Partido Comunista Francês (PCF). O reformismo e a burocracia do PCF são refutados pelos estudantes, no entanto consegue manter controle sobre as fábricas ocupadas, sufocando as lutas. O anarquismo, ou melhor dizendo uma parte do que se teoriza como anarquismo, reaparece publicamente nesse momento e era utilizado como base para negar o economicismo do PCF. Bakunin e outros anarquistas históricos enxergaram a necessidade de se construir instâncias de organização popular para a luta reivindicativa e a construção de um programa revolucionário. Mas em 1968, os estudantes confundiram todas as formas de organização com a burocracia, e tal confusão em parte se deve ao PCF, que estava a todo momento tentando aparelhar o movimento estudantil.
A lição que fica é a necessidade de aprender que não se pode contar apenas com a espontaneidade, nem desprezar a organização popular, que nasce no seio do povo (fruto de uma consciência, e não trazida de fora por intelectuais: aquilo que chamamos vanguarda).
Lógico que a questão é profunda demais pra uma abordagem bloguiniana, mas considero a iniciativa de trazer este tipo de assunto para um universo tão recheado de coelhinos e bichinhos peludos (vão se fuder) uma atitude inteligente e sobretudo corajosa.
Acho que vc tocou em um ponto muito importante, Maio de 68 não é um evento isolado, mas o ápice de diversos acontecimentos.
Como disse “fruto de um processo histórico”.
[…] O Maio de 1968 […]
[…] expectativas. Ian McEwan consegue retratar diversos aspectos morais e sociais da geração pré 1968. Ele transcende o registro particular ao tratar o drama do casal atingindo o retrato de uma época […]