Louca dos gatos

Descansa em paz, meu eterno velhote

Domingo (20/09) o Gandalf faleceu. Era início da noite. Mais ou menos 19:30.

De manhã ele estava deitado no sofá. Fazia tempo que ele não deitava no sofá, sempre procurava os lugares mais esdrúxulos para ficar: o braço do sofá, em cima do modem da internet… Mas ele estava ali, com uma cara de cansado. Como eu fazia há dias, preparei a comida dele: ração seca, ração úmida e água morna. Peguei ele no colo para levá-lo até a comida (o gato velhote já estava ficando senil e nem sempre se dava conta da comida, precisava de estímulo pra comer). Coloquei ele na frente do pratinho e… Bem, ele não conseguiu ficar de pé. Não comeu. Não se mexeu.

Peguei ele no colo de novo e vi que ele estava querendo fazer cocô, estava “na portinha” como dizem as crianças. Ajudei na tarefa ingrata, massageei a barriguinha até sair. Ele não gostou. Reclamou com seu miado característico. Coloquei ele no travesseiro, cobri com uma toalha (a mesma que agora o enrola em sua caixinha) e fiquei com ele o dia todo. Respiração fraca. Sabia que era seu último dia.

Avisei todas as pessoas que lembrei.

Mariáh e João ligaram, falaram com ele. Chorei. Muitas outras vezes no dia eu não consegui conter as lágrimas. Mas eu já vinha me preparando pra esse momento já fazia algumas semanas. Ele estava magro. Muito magro. Comia pouco. E velho, muito velho. Uma combinação que só poderia resultar em uma coisa. E hoje era o dia, eu sabia só de olhar pra ele.

Ficou em silêncio o dia todo. Com excessão daquele miado/reclamação da manhã e um miado triste e alto que deu uns minutos antes de dar seu último suspiro.

Fiz prática. Pra ele. Com ele juntinho de mim.

Deixei ele no sol pra se aquecer, porque ele já estava geladinho desde de manhã. Avisei o Manuel, que era bastante apegado a ele. Chorei.

Depois do miado triste ele fez ânsia algumas vezes. Mudou o ritmo da respiração. Parecia que tinha morrido. Não tinha. Fiz prática pra ele de novo.

Quando estava recitando Dje Tsuns ele se foi. Eu acho que foi bem na hora que fiz carinho na barriguinha dele, sentindo todos os ossinhos da costela. Porque ele se esticou inteirinho e depois disso… Nada. Nem uma respiração. Fiquei esperando voltar. Não voltou. Comecei a avisar as pessoas. Depois que terminei (e recitei mil Om Tare Tam Soha na hora da meditação para os mortos), mandei mensagem para o César.

Será que tem como enterrar o Gandalf no sítio?

Falei com a minha mãe. Chorei. Chorei. Chorei. Mas não foi tão difícil como quando a Fubá, a Starbuck ou a Mérida se foram. Será que estou perdendo a sensibilidade? Não pode ser, porque eu estou muito triste. Devastada. Ou será que é só porque eu me preparei pra esse momento, sabia que era o fim de um ciclo e que a hora dele já tinha chegado? Será que eu fiz tudo que podia pra melhorar a vida dele? Será que fiz tudo que podia pra que a morte dele fosse menos terrível? Será?

Pode ser coisa da minha cabeça, mas parece que o Calibã sabe o que tá acontecendo. Ele ficou em volta do Gandalf o dia todo. E na hora da morte quem estava aninhado ali do ladinho? Isso mesmo, o Calibã. Ele queria abrir a caixa onde o Gandalf estava. Tive que colocar na geladeira pra que não mexesse. E parecia que o Calibã estava procurando o amiguinho dele. Triste.

Ontem eu fui enterrá-lo no sítio do César. Fiz prática pra ele, recitei mantras, enterrei. Foi tranquilo. Um lugar lindo, pacífico e no meio da natureza. Na volta pra casa o vazio. Agora são cinco.

Não sei como é para os gatos, não sei se eles entendem ou sentem como nós humanos. Mas fiquei com a impressão de que o Calibã sabia de tudo.

Mais uma perda. Só seis meses depois de perder a Mérida de maneira trágica, ainda nem me recuperei dessa perda, ainda não consigo falar sobre ela. Muita saudade já. Meu velhote. Te amo. A casa parece muito vazia.

Gandalf nasceu em data desconhecida e viveu por muitos anos como reprodutor de um gatil até ser resgatado e renascer para uma nova vida comigo em 2012. Em 2020 ele se foi.

Anarca, feminista, vegana, cat lady, bookworm, roller derby, hiperbólica, entusiasta das plantas e constante aprendiz. Rainha de paus, professora de história, amante de histórias. Meu peito é de sal de fruta fervendo num copo d'água. ♀️✊Ⓥ

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