Criação e criatividade

Teatro do Chat

Na sexta-feira 07 de setembro de 2007, o Maurício Corbalán (um dos arquitetos do coletivo m7red, autor da obra Teatro do Chat) conduziu uma espécie de oficina/mini-curso sobre o Teatro do Chat (integrante da mostra Zona Franca da 6ª Bienal do Mercosul). A oficina iniciou com um histórico da proposta e caminhou naturalmente para as questões tratadas nas “edições anteriores”. O Teatro do Chat é uma proposta de trocas de idéias virtual, uma arena pública de discussão acerca de temáticas urbanas. O elemento virtual é de extrema importância, nas duas primeiras vezes que a proposta foi realizada ela ocorreu virtualmente. Na primeira vez, em Amsterdã, a conversa girou em torno da questão da imigração islâmica para a cidade. Já na segunda edição, o cenário era Buenos Aires e a discussão girava em torno dos Piqueteiros e também do Porto da cidade. Em ambas as discussões, as pessoas envolvidas no debate virtual assumiam papéis pré-estabelecidos, baseados nos protagonistas dos problemas abordados.

O objetivo é pensar o espaço público e trocar cenários. E o novo cenário é, então, Porto Alegre e a discussão agora envolvem o centro da cidade e os projetos da Prefeitura de POA. Dentre os projetos da Prefeitura que serão alvo de discussões estão: os camelôs do centro e o Camelódromo, a Revitalização do Centro, os Portais da Cidade e a presença dos Catadores de Material Reciclável nas ruas. O processo que resultou no trabalho presente na Bienal foi construído coletivamente, diversas conversas a respeito dessas temáticas foram realizadas.

A partir da idéia de que os problemas locais são afetados também pelos problemas globais o m7red pensou em dividir o Teatro do Chat em quatro cenas distintas, independentes espacial e temporalmente para o cenário Porto Alegre. Nessas cenas as pessoas foram ou serão convidadas a saírem de suas confortáveis posições. Como em uma peça teatral, onde o ator interpreta um personagem (que não é seu igual, com idéias e opiniões diferentes das suas). Nesse Chat a pessoa assume as posições e argumentos de um dos seis personagens com distintas características e posições a respeito do tema que serão desvendadas anteriormente com o auxílio de vídeos tutoriais que se encontram ao lado da sala de conferências e de uma ficha dos mesmos.

Sem dispor de muita técnica teatral, essa encenação virtual ocorre, de acordo com a cena correspondente, em diferentes locais da cidade. A primeira cena ocorreu virtualmente no Boteco Odeon e se encontraram o personagem camelô e o intelectual e conversaram argumentos contrários às propostas da Prefeitura. A segunda cena se passou na própria Prefeitura Municipal com seu personagem representante e mais o personagem advogado, ambos a favor da proposta da mesma. A terceira cena, por sua vez, aconteceu no Cais do Porto com a fictícia representante do Fórum Social Mundial (FSM) e e um agente imobiliário também inventado discutindo a possibilidade ou não do retorno do FSM para a cidade. A quarta cena ocorrerá no final da Bienal com a reunião de todos os personagens (fictícios, mas baseados em cargos e pessoas reais) para um chat no espaço construído no Cais para a 6ª Bienal. Esse encontro será também uma coletiva de imprensa.

Até lá, o espaço poderá ser utilizado com hora marcada para encenações onde os atores serão pessoas do público. Diferente de Amsterdã e Buenos Aires, na Bienal do Mercosul em Porto Alegre é a primeira vez que há um espaço físico para que as discussões ocorram. Os computadores dispostos e uma mesma sala de conferência e a discussão ocorre pelo famoso programa de bate-papo, o Skype (já logado com o personagem). Um computador principal é utilizado pelo coordenador da sessão e é dele que a projeção na parede é capturada.

O Teatro do Chat é um exercício de imaginação, onde é necessário pensar coletivamente, compreender o personagem compreender o cenário para se compreender as relações complexas ali tecidas e para compreender os problemas apresentados. Um exercício de como representar o papel do outro e aprender a enxergar os diferentes pontos de vista sem preconceito. Numa espécie de BRAINSTORM coletivo os argumentos são, mais do que para convencer o outro, provocar os “atores”. Tirar-lhes o chão, a base dos argmentos. Mais do que formar opiniões, o Teatro do Chat vai desconstruir consensos.

Tive a oportunidade de acompanhar, junto de outros mediadores o Maurício numa sessão do Chat. Incorporei o personagem do camelô. Ficamos algumas horas conversando virtualmente, mesmo que na mesma sala. Em uma espécie de RPG onde a política é um teatro e o virtual é um caminho possível o grupo m7red trouxe à Bienal uma proposta que, segundo eles, não é arte, mas se caracteriza pela reflexão de temas pulsantes do século XXI. Assim é a arte contemporânea, instigante, nos convida a pensar, indagar, dialogar.

A próxima parada deles é Hong Kong, é esperar pra ver.

Anarca, feminista, vegana, cat lady, bookworm, roller derby, hiperbólica, entusiasta das plantas e constante aprendiz. Rainha de paus, professora de história, amante de histórias. Meu peito é de sal de fruta fervendo num copo d'água. ♀️✊Ⓥ

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Vica
14 de setembro de 2007 11:31 pm

Tô querendo participar desse chat aí! 😉 Eu acho que consigo dar uma passada na Bienal amanhã de tarde. Será que te encontro? Beijos.

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5 de dezembro de 2007 9:13 am

[…] nota no Estratégia & Análise. Desta vez o assunto foi Teatro do Chat, então eu reelaborei um texto já publicado aqui no […]

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23 de setembro de 2020 2:03 pm

[…] Teatro do Chat […]

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