Assistindo

2001: Uma odisséia no espaço

Depois de terminar de assistir 2001: A Space Odyssey (1968) fiquei perplexa. A beleza, a complexidade, os diálogos, as imagens, a fotografia, efeitos especiais, história, a música, o silêncio, a lentidão, tudo convergiu para que no final eu sentisse essa perplexidade, uma mistura de incerteza e estranheza. Não é para menos, estou falando de um dos filmes mais complexos da História do cinema. E falar sobre ele não é fácil. Primeiro é preciso digerir o filme que Stanley Kubrick deixou de presente para a humanidade. E nem assim me sinto apta a falar dele.

Uma obra em que cada quadro é pensado e estudado antes de ser feito. E mais de quarenta anos depois de seu lançamento (1968) ainda é objeto de longas discussões a respeito das diversas ideias e proposições apresentadas e muitas interpretações são elaboradas. Sua história é de difícil entendimento, e por diversas vezes parece até sem sentido. No entanto, não é o sentido da história, da narração, que importa para o filme, e sim os temas por ele suscitados. Temas ainda atuais.

Um filme a frente de seu tempo – o homem pisou na Lua apenas um ano depois de seu lançamento. Kubrick e Arthur C. Clarke (o filme é dirigido pelo gênio Stanley Kubrick e o roteiro é uma parceria entre Kubrick e Arthur C. Clarke (autor de ficção científica) e foi sendo construído e modificado ao longo das filmagens) foram extremamente cuidadosos ao criar seus cenários espaciais, preocupado com a maior verossimilhança possível ele buscou modelos na NASA para criar as suas naves (diferentemente dos seus predecessores que faziam os OVNIS de cartolina ou latão, o que nem por isso desmerecem esses filmes dos quais sou fã).

Para os filmes de ficção científica há o antes e o depois de “2001” – anteriormente composto por filmes “Bs”, com poucos recursos financeiros, que serviam para o entretenimento da juventude. Depois da direção de Kubrick a ficção científica no cinema nunca mais foi a mesma.

Mas o filme não é apenas um marco na história do cinema, ele é também uma obra-prima, embalada por um repertório musical que parece ter sido feito especialmente para suas cenas, no entanto foram utilizadas composições já existentes como “O Danúbio Azul” de Johann Strauss. Um filme de poucos e significativos diálogos, brinca com períodos de silêncios (o som não se propaga no vácuo, e nesse sentido essa foi uma das brilhantes utilização da realidade e da ciência em seu filme), do som da respiração potencializado nos uniformes espaciais, e uma brilhante utilização da imagem. O filme é uma obra visual, que tenta, através da imagem, suscitar os temas relacionados à evolução humana, vida extraterrestre, nascimento e renascimento.

Há dois momentos no filme que são meus preferidos. O primeiro deles é logo no início, no capítulo intitulado A Aurora do Homem (ou A Aurora da Humanidade), quando nosso ascendente primata mira um montículo de ossos e acaba descobrindo neles uma ferramenta, a primeira delas: uma arma. Essa é, para mim, a cena mais linda já feita no cinema. A expressão do primata frente ao objeto que contempla é algo aterrador 9mesmo com o uso da máscara o ator foi genial) e quando ele começa aos poucos a manusear o osso e o volume da música aumentando no ritmo em que a intensidade do manuseio também aumenta me deixou boquiaberta. Todo esse primeiro capítulo me fascina.

O segundo deles, quase uma unanimidade entre os fãs do filme, é o momento em que o astronauta desliga o computador HAL. De uma beleza emocionante, é possível até criar empatia com a inteligência artificial, que até então evoluiu negativamente, assassinando a maioria da tripulação da nave. HAL é, inclusive, o tripulante que mais expressa seus sentimentos, principalmente o medo ao perceber seu destino.

Feito de pequenos detalhes e pensado por uma figura também bastante enigmática, é considerado a melhor obra da pequena filmografia de Kubrick. Uma combinação perfeita entre imagem, som, história, atuação e personagens, um turbilhão de informações. Um filme para se ver várias e várias vezes, para manter acesa a necessidade de discutir seus temas e apreciar uma obra visual belíssima.

Anarca, feminista, vegana, cat lady, bookworm, roller derby, hiperbólica, entusiasta das plantas e constante aprendiz. Rainha de paus, professora de história, amante de histórias. Meu peito é de sal de fruta fervendo num copo d'água. ♀️✊Ⓥ

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Mi Müller
23 de março de 2011 9:11 am

Ah Dani eu nunca vi esse filme, mas agora estou tendo um treco para ver, adorei a forma como tu escrevestes sobre ele vou caçar aqui na província 🙂
estrelinhas coloridas…

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23 de março de 2011 4:45 pm

[…] 33. Ver 10 filmes clássicos que nunca vi [2/10] 1. Casablanca (1942) 2. 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968) […]

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