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Julie & Julia: 365 dias, 524 receitas e 1 cozinha apertada

Ontem à noite eu terminei de ler Julie & Julia: 365 dias, 524 receitas e 1 cozinha apertada, aos 45 do segundo tempo para o Desafio Literário 2012. Sabe aquele livro que antes mesmo de abrir tu tem certeza de que vai gostar. Pois Julie & Julia foi exatamente assim. Eu sabia que gostaria desse livro desde a primeira vez que ouvi falar dele, e depois de ver o filme maravilhoso, eu tive mais certeza ainda.

O livro escrito por Julie Powell conta sua própria história, quando ela resolveu encarar um projeto bem diferente: fazer todas as receitas do livro Mastering the Art of French Cooking (Vol. 1) do ícone culinário norte americano Julia Child. E mais, ela escreveu um blog sobre isso e o blog fez muito, mas muito sucesso. Tanto sucesso que virou livro. Esse livro que acabei de ler.

O projeto que pode parecer maluco começou como uma forma de distração do emprego maçante numa repartição do governo no qual não tem futuro, a possibilidade de não poder ter filhos e a falta de vontade de tê-los misturado com uma indecisão mortal sobre o assunto motivada pela insistência da chegada dos trinta e da sociedade, uma mudança recente para um apartamento horroroso e caindo aos pedaços. Em resumo, uma texana vivendo uma vida de merda em Nova York. A ideia em si foi do marido, retratado como um santo, o marido perfeito que todas as mulheres  do mundo já desejaram em certo ponto de sua vida, que a apóia em tudo e sabe lidar com as neuras de Julie.

E assim foi, por um ano. Cozinha a receita, grita, excomunga a todos quando algo não dá certo (e isso, no início, é quase sempre), se atrapalha, corre atrás de ingredientes por vezes bem difíceis de encontrar, afinal o livro de 1961 fala de uma cozinha bem diferente daquela de 2002, e como são receitas francesas, nem tudo é tão comum assim, mesmo para os padrões nova-iorquinos. Na tentativa de encontrar algo que nem mesmo Julie sabe o que é, ela acaba se estressando muito, se divertindo muito e comendo muito. E se tem uma coisa que eu descobri sobre a culinária francesa é que não há manteiga que chegue.

Julia Child passa a fazer parte da vida de Julie. Uma ligação muito íntima é criada entre a autora e a Julia de sua cabeça (porque a de verdade parece não gostar muito da moça). E um pouquinho da vida de Julia é relatada no livro em capítulos super curtos, em itálico, baseados nas cartas de Paul (marido de Julia) e na biografia dela.  Julie Powell também falou sobre a alegria, a presença e amor por Julia Child no seu dia a dia.

Eu me senti conectada com Julie, não só pela maneira deliciosa dela escrever, como também por compartilhar muitas de suas neuras e manias. E muitas de suas paixões também. E como fiquei com vontade de provar alguns (muitos) daqueles pratos! Adorei cada referência a Buffy: A caça vampiros, eu e ela somos viciadas na série de Joss Whedon, adorei as referências literárias, da cultura pop, a atores que ambas gostamos, a citações de James Gandolfini (meu novo amor) em um papel num filme que ainda não vi, e  muitas outras referências divertidíssimas. E como dei risada lendo esse livro. Em muitos momentos ri alto e tinha de reler o trecho em voz alta para o Ju, porque era realmente muito bom (ou fazia alguma referência a Buffy!).

Mas não foi apenas no amor fanático por Buffy que me identifiquei com Julie, na maneira como ela lida (ou deixa de lidar) com o estresse e as frustrações somos bem parecidas. Esse livro não é apenas sobre cozinha, é também sobre seu casamento, sua vida sexual, seus amigos – e seus casamentos e vidas sexuais – e seu trabalho e sua crise dos trinta que é também uma crise de tudo o mais. E é uma bela história. Em meio a tantos desastres e muitos acertos, opiniões sinceras sobre as receitas e seus resultados, se ficou bom ou não, se o aspecto é bonito ou não, o desafio a levou para caminhos nunca antes explorados, não só com a fama do blog, mas com o aprendizado que sair a procura de ingredientes ou matar uma lagosta pode trazer para nossa vida. E ao contrário do que parece, são muitos.

E Julie traz tudo isso com um senso de humor muito afiado, muito sarcasmos, sinceridade e uma narrativa gostosa e inteligente, que faz jus ao sucesso do blog. No final, através de todas os fígados, ovos quebrados, kilos e kilos de manteiga e “aspics” permeia o aroma da esperança e da descoberta. E que aroma delicioso. É tão bom terminar um livro e sentir que aprendeu com ele, que cresceu.

PS: descobri mais um motivo para tanta conexão, nascemos no mesmo dia (com pouco mais de uma década de diferença, claro).

Julie & Julia: 365 dias, 524 receitas e 1 cozinha apertada
Julie Powell
344 páginas
Editora Conrad
Skoob | Goodreads | Compre no Submarino
[xrr rating=5/5]

Esse texto faz parte do projeto de blogagem coletiva Desafio Literário 2012. A resenha corresponde ao mês de Janeiro (atrasada), cujo objetivo é ler um livro de Literatura Gastronômica.

Confira no blog do desafio as resenhas dos outros participantes para este mês. Ou descubra quais foram as minhas escolhas.

Participe, comente, leia. Gostou da ideia? Siga o @DL_2012 no twitter. Aproveita e segue a equipe do Desafio Literário 2012 no twitter também: @vivi@danihaendchen@queromorarlivr e eu, @clandestini.

Confira as leituras feitas para o Desafio Literário 2012:

Janeiro – Literatura Gastronômica: Julie & Julia: 365 dias, 524 receitas e 1 cozinha apertada, de Julie Powell.

Anarca, feminista, vegana, cat lady, bookworm, roller derby, hiperbólica, entusiasta das plantas e constante aprendiz. Rainha de paus, professora de história, amante de histórias. Meu peito é de sal de fruta fervendo num copo d'água. ♀️✊Ⓥ

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Lu Monte
1 de fevereiro de 2012 11:17 pm

Se eu estivesse no Desafio este ano, esse seria meu livro de janeiro – está aqui no armário há tempos aguardando uma chance. Vi o filme e amei, fiquei até com vontade de fazer um projeto parecido, mas usando a Nigella como guia. 🙂
E realmente, não há manteiga que chegue na culinária francesa!!

Michelle
1 de fevereiro de 2012 11:26 pm

Daniela, adorei sua resenha!
Seu texto me deu ainda mais vontade de passar esse livro para o começo da fila!

Cacá
2 de fevereiro de 2012 10:30 am

Também me diverti bastante com o livro, e dei altas risadas!
Gostei da resenha!
Abraço

pinkperry
2 de fevereiro de 2012 4:57 pm

Poxa, fiquei morrendo de vontade de ler o livro. Numa onda de ‘julgar o livro pela capa’ achava que seria mais sobre cozinha e receitas (não procurei saber mais sobre livro/filme) e, pelo que você fala, vai além disso.

E o fato de ser um livro que também faz rir muito me atrai!

Karol
Karol
9 de fevereiro de 2012 3:45 pm

Eu não li o livro. Vi o filme. Muito bom!

😉

Júlia
13 de fevereiro de 2012 4:48 pm

Daniela, Olá!

Se você se aventurar a ler o 2 livro dela, quero saber se vc continua com a mesma impressão da Julie…

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29 de fevereiro de 2012 7:31 pm

[…] – Literatura Gastronômica: Julie & Julia: 365 dias, 524 receitas e 1 cozinha apertada, de Julie […]

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19 de fevereiro de 2014 2:11 pm

[…] um probleminha. Estante não tem nada com o tema, Aliás, tenho Julie & Julia, mas eu já li. Então eu escolhi um que eu não tenho: Um Otimista Incorrigível, do Michael J. […]

Www.Youtube.Com
6 de junho de 2014 11:03 pm

tag:desejo

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13 de setembro de 2020 1:54 pm

[…] – Literatura Gastronômica: Julie & Julia: 365 dias, 524 receitas e 1 cozinha apertada, de Julie […]

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13 de setembro de 2020 4:53 pm

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