Lendo

A Narrativa do Romance Policial

Depois de escrever um pouco sobre o surgimento do Romance Policial, é hora de falar da forma que a narrativa assume. A narrativa policialesca diz respeito a uma inclinação humana já existente, e busca a mais completa verossimilhança com a realidade. Os aspectos poéticos são abandonados em prol do exercício da racionalidade. O leitor interage através do medo. E busca compreender crime e criminoso em conjunto com a figura do detetive, responsável pelo desenrolar da história. O detetive representa a polícia, e ele é o herói. Em contrapartida o criminoso assume um papel de aberração.

Com o romance policial de segunda geração há uma inversão do papel do detetive e do lugar do crime na sociedade. Se nos romances de primeira geração eles eram aberrações e não faziam parte da ordem social, nos romances escritos a partir das décadas de 1920 e 1930, eles passam a fazer parte de um esquema social que é por inteiro abominável. Ambos estão inseridos na urbe, mas é a com a hard-boiled novel que a cidade passa a ser retratada como verdadeiras ruínas modernas aprisionadas pelo senso de mercadoria e pela multidão. São nas grandes cidades que os grandes crimes aparecem. O terror agora passa a estar escondido em qualquer beco ou ruela. O criminoso pode estar em qualquer lugar, e a vítima pode ser qualquer um.

O detetive agora faz parte do submundo, mas ainda representa o herói, pois ele não se deixa contaminar por essa doença social em que a cidade está imersa. O gênero não se extinguiu, pelo contrário, ganha cada vez mais força expandindo seus braços para outras mídias. Um exemplo clássico são os seriados de televisão que surgem na década 1960 e perduram até hoje. O mesmo pode-se dizer acerca das metrópoles contemporâneas. Não é por acaso que as cidades de onde saem os novos autores da literatura policial (no caso do Brasil) são Rio de Janeiro e São Paulo, duas grandes metrópoles. Mas esse é um tema para outro texto. Quem sabe.

Anarca, feminista, vegana, cat lady, bookworm, roller derby, hiperbólica, entusiasta das plantas e constante aprendiz. Rainha de paus, professora de história, amante de histórias. Meu peito é de sal de fruta fervendo num copo d'água. ♀️✊Ⓥ

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wakko
26 de setembro de 2008 10:27 pm

Nossa, achei super interessante o texto! Sou fã de carteirinha de romances policiais, é bom saber sobre a origem e como funcionam!
Vou ler agora o 1o post, que perdi!
Beijos Dani =**

Diego Viana
Diego Viana
28 de setembro de 2008 3:53 pm

Interessante essa mudança de perspectiva da posição do crime na sociedade. Será que não dá pra pensar em coisa parecida com relação ao próprio criminoso? É cada vez mais comum que o herói seja um ladrão de bancos ou assassino profissional. O anti-herói contra o policial corrupto. Será que isso não tem algo a ver com o caminhar do mundo?

Tiago Jaime Machado
Tiago Jaime Machado
2 de outubro de 2008 11:53 pm

Que bonitão, vou imprimir e guardar dentro do meu taschen film noir.
🙂

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