Trata-se de um romance, escrito a partir das experiências pessoais de Hemingway durante sua participação no conflito ocorrido de 1936 a 1939 na Espanha, conhecido como Guerra Civil Espanhola.
O romance conta a trajetória de Robert Jordan, um americano que luta na Espanha como miliciano, coisa bastante comum (o próprio autor participou assim da guerra). O período de tempo que compreende a narrativa é de apenas quatro dias. Jordan parte em uma missão para o território dominado pelos fascistas a fim de explodir uma ponte. O objetivo era atrasar as tropas inimigas quando da ofensiva dos republicanos. Nesse ínterim, ele encontra um bando de guerrilheiros republicanos que vivem em uma caverna em pleno território inimigo e que a bastante tempo não pratica nenhum ato de guerrilha e estão acomodados com a situação.
O bando é liderado por Pablo, que não gosta nem um pouco da idéia de explodir a tal ponte, pois isso significaria a necessária saída de todos daquele lugar. A paz momentânea seria quebrada e ele teria de voltar a lutar. Esse empecilho não impediu Jordan de tentar a todo custo convencer a todos da importância de sua missão para a República. Durante esse tempo ele se apaixona por Maria, uma moça que havia sido encontrada em estado de loucura depois do último ataque que o bando de Pablo havia desferido contra as tropas fascistas (também com a ajuda de um estrangeiro).
Ainda durante a narrativa temos alguns personagens contando fatos do seu passado e também os pensamentos de Jordan em relação a sua missão, ao seu amor por Maria, se poderia ou não confiar naquelas pessoas, sobre o que ele achava dos espanhóis, sobre a guerra, seu passado, etc.
Hemingway conta muito bem sua história, mas o faz a partir de um ponto de vista próprio, de sua visão sobre a guerra, a qual eu não concordo. Acredito que ao ler esse romance o leitor que não conhece o conflito e as suas nuances, pode terminar o livro tirando conclusões errôneas sobre o que realmente aconteceu.
Em algumas passagens são citados outros grupos que lutaram na guerra, como os anarquistas e os partidários os POUM (Partido Obrero de Unificación Marxista) e eles são caracterizados como bárbaros, pessoas más e irresponsáveis que poriam tudo a perder, alguns até são citados como espiões fascistas. Aí está o problema. Quem não conhece nada sobre o conflito mão sabe da luta política interna entre o Partido Comunista e os outros grupos que defendiam a República e até mesmo a Revolução. A querela foi intensa e muitas obras foram escritas defendendo um ou o outro lado.
Por Quem os Sinos Dobram foi escrito durante a II Guerra Mundial, em 1941, pouco tempo depois de findo o conflito espanhol. O tempo para fazer uma crítica política talvez tenha sido pequeno, mas mesmo assim considerei a obra complicada, no sentido de obscurecer uma importante disputa política que foi crucial para vitória fascista na Espanha. A perseguição política que o Partido Comunista empreendeu sobre os outros grupos políticos que também lutavam pela República foi omitido no discurso narrativo de Hemingway e ele também assumiu o discurso do PC da época: anarquistas e POUM são inimigos, bárbaros, fascistas e trotskistas (um xingamento largamente difundido a fim de justificar a perseguição de Stalin à Trótsky).
Recomendo que se estude um pouco sobre essa disputa para não sair com pré conceitos em relação ao conflito e seus envolvidos depois de terminada a leitura. Eu, é claro, discordo da visão de Hemingway a respeito dessa querela. Uma leitura complementar e que expõe um contraponto excelente para analisar a questão é Lutando na Espanha (George Orwell).
Buenas, minha crítica a esta obra está relacionada à minha pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso que termino no final do ano, portanto peço desculpas pelo aborrecimento de falar tanto sobre História e tão pouco sobre a obra em si. Entretanto, espero que minhas divagações sobre História não tenham sido aborrecimento e possam servir de estímulo.
A obra virou filme em 1943 e conquistou o posto de clássico da literatura, mas de 1 a 5 eu dou apenas 3. Sim, sou chata, porque o livro é bem escrito e tudo mais, mas mecheu com questões como essa, meu julgamento é diferenciado.
Nota: 3
(de 1 a 5, sendo: 1 – Péssimo; 2 – Ruim; 3 – Regular; 4 – Bom; 5 – Excelente)
Esta resenha faz parte do projeto Desafio Literário 2010 proposto pelo blog Romance Gracinha e corresponde ao mês de Maio, cujo objetivo é ler um livro do gênero Chick-lit.
Confira no blog do desafio as resenhas dos outros participantes para este mês.
E confira também os livros que li até agora para o desafio:
Janeiro – Quincas Borba (Machado de Assis)
Fevereiro – As Crônicas de Nárnia Volume Único (C. S. Lewis)
Março – Orgulho e preconceito, de Jane Austen
Abril – Confesso que vivi (Pablo Neruda)
Maio – Melancia (Marian Keyes)
Junho – Divã (Martha Medeiros)
[…] This post was mentioned on Twitter by SBS. SBS said: Trecos e Trapos – Por Quem os Sinos Dobram (Ernest Hemingway) http://bit.ly/9W0B4h […]
ah, eu achei ótima a sua resenha 🙂 você deu uma visão maior à história contada, deu-lhe um contexto e, em vez de uma, saio com duas dicas de leitura. obrigada!
@naomi, muito obrigada.
Volte sempre, será bem vinda.
Eu adoro a temática, por isso o texto enorme.
Boa escolha e muito boa resenha!
@Laura, muito obrigada.
Volte sempre.
Sua resenha ficou ótima.
Nunca ouvi falar sobre esse livro. Me pareceu instigante.
Bjoo.
Muito obrigada Caline.
É uma boa leitura.
Volte sempre.
Beijos
OOo nunca nem tinha ouvido falar do filme…. Bahh bem diferente a sua escolha..
A resenha ficou muito boa!!!
Oi Kézia. Obrigada por comentar aqui no blog.
Eu ainda não vi o filme, mas pelo elenco fiquei bem interessada. Quero ver como uma sueca se sai interpretando uma espanhola :p
Volte sempre.
Menina, vou te contar que Hemingway é um dos meus escritores favoritos. E tem muito a ver com o jeito que ele viveu, meio recluso, controverso. Fascinante!
Beijos
Muito bom!
Não conhecia esse livro, e nem o filme!
Vou recomendar para os meus alunos que adoram esse tema! Já eu não sou muito chegada, mas acho interessante…
Sua resenha está muito bem feita e contextualizada. Gostei da sua recomendação de pesquisa como fundamentação para a leitura. Eu procuro fazer isso em minhas leituras. Fico feliz de Hemingway figurar entre os escritores lidos nesse desafio literário. Excelente!
Beijocas
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