Lendo

O Sol Também se Levanta, de Ernest Hemingway

Minha segunda incursão pelo conturbado universo de Hemingway. No ano passado mergulhei de cabeça, daquele mergulho com roupa própria e tudo. Li duas vezes Por Quem os Sinos Dobram (e teve também leitura de fragmentos diversos por muitas e muitas vezes), li biografia, peça de teatro, texto de crítica literária e muitas outras coisas a respeito da vida e  da obra do autor norte americano. Tudo por conta da tal monografia de conclusão de curso.

Nessas leituras descobri a paixão arrebatadora de Hemingway pela Espanha, e especificamente pelas touradas e a fiesta espanhola. Ele foi até toureiro amador, pasmem. E dessa paixão surgiram alguns livros. Dentre eles Por Quem os Sinos Dobram – que é fruto direto da experiência do autor na Guerra Civil Espanhola – e O Sol Também se Levanta, um livro de 1926 que fala da grande paixão dele: as touradas.

O Sol Também se Levanta (The Sun Also Rises) é narrado em primeira pessoa por  Jake Barnes, um jornalista que vive em Paris dos anos 20 e conhece muita gente, desde escritores, boêmios e um lutador de boxe (outra das paixões de Hemingway). Autobiográfico ou não, fato é que Hemingway era um jornalista que vivia em Paris na década de 1920 rodeado de grandes nomes da Literatura mundial e fazia parte da Geração Perdida (nome dado por Gertrude Stein – quem viu Meia Noite em Paris também sabe do que estou falando). Jake Barnes é um observador, separados dos americanos e dos europeus ainda constantemente comparando-se, diretamente ou por insinuação, para com os outros. Além disso, o livro narra a viagem do grupo de amigos, do qual Jake fazia parte, para a Espanha em busca da adrenalina da fiesta em Pamplona, e isso também ocorreu na vida do autor.

Coincidências biográficas a parte, o livro traz algumas reflexões interessantes sobre a época que ele retrata, a efervescência cultural de Paris e a beleza e a crueldade das touradas espanholas (veja que essa é uma leitura do século XXI, baseada nas minhas convicções a respeito do direito dos animais). O livro descreve (entre outras coisas) a desilusão com o “American Way” e o que isso passou a significar nas décadas seguintes. E o final não e drástico como o de Por Quem os Sinos Dobram. A leitura demora um pouco para engatar, na primeira metade a narrativa traz fatos ocorridos ainda em Paris, de como esse grupo de amigos se encontra por lá, seus conflitos internos e de como eles resolvem partir para a Espanha.

É somente na segunda metade do livro que a Espanha é retratada (como eu não sabia disso, ficava esperando a cada página o momento em que eles partiriam para Pamplona e a fiesta começaria). Essa metade do livro é muito mais interessante, pelo menos do meu ponto de vista, pois é nela que as coisas parecem se desenrolar melhor, do ponto de vista da narrativa, e os conflitos ficam mais claros. Ademais, é na descrição da fiesta que temos alguns dos melhores momentos da obra, onde além da preocupação do narrador Jake com a personagem feminina (Brett, causadora de boa parte dos conflitos) diante da crueldade e violência na morte dos touros, a descrição do toureiro e de suas ações é realmente incrível. Essas descrições deixam clara a paixão de Hemingway por todo aquele ritual que as touradas representam.

Algumas passagens são um pouco maçantes, outras mostram apenas os personagens bebendo (e não foi pouco álcool que essa gente tomou, hein). Mas nenhuma passagem deixou de ser importante para a construção dos complexos personagens (alguns até se tornaram difíceis de simpatizar), todos os diálogos, até mesmo os mais embriagados, colaboraram para construir as relações entre eles e dar tom ao livro que mostra um pouco da Geração perdida sem citar nomes.

O Sol Também se Levanta
Ernest Hemingway
Editora Abril Cultural
264 páginas
Skoob | Goodreads
Nota: 3/5

Esse texto faz parte do projeto de blogagem coletiva Desafio Literário 2011, proposto pelo blog Romance Gracinha. A resenha corresponde ao mês de Outubro (atrasada de novo, eu sei), cujo objetivo é ler um livro de um ganhador do Nobel de Literatura.

Confira no blog do desafio as resenhas dos outros participantes para este mês. Ou descubra quais foram as minhas escolhas.

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Confira as outras leituras feitas para o Desafio Literário 2011:

Janeiro:
Coraline, Neil Gaiman
Memórias da Emília e Peter Pan, de Monteiro Lobato

Fevereiro
Che Guevara – a vida em vermelho, de Jorge G. Castañeda
O que é isso, companheiro?, de Fernando Gabeira

Março
As Brumas De Avalon Livro 1 – A Senhora Da Magia, de Marion Zimmer Bradley
As Brumas De Avalon Livro 2 – A Grande Rainha, de Marion Zimmer Bradley

Abril
O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams
O Restaurante no Fim do Universo, de Douglas Adams
A Vida, o Universo e Tudo Mais, de Douglas Adams
Até mais, e obrigado pelos peixes!, de Douglas Adams
Praticamente Inofensiva, de Douglas Adams

Maio
A Última Trincheira, de Fábio Pannunzio
Esqueleto na lagoa verde, de Antonio Callado

Junho
Calabar – o elogio da traição, de Chico Buarque Ruy Guerra
Gota D’água, Chico Buarque e Paulo Pontes
As Relações Naturias: três comédias, Qorpo Santo

Julho
Nunca fui a garota papo-firme que o Roberto falou, de Cristiane Lisbôa
Areia nos Dentes, de Antônio Xerxenesky
elvis & madona [uma novela lilás], de Luiz Biajoni

Agosto
Olhai os lírios do campo, de Erico Veríssimo
Morte e vida severina e outros poemas para vozes, de João Cabral de Melo Neto
Contos Gauchescos & Lendas do Sul, de Simões Lopes Neto

Setembro
Todas as Histórias do Analista de Bagé, de Luis Fernando Veríssimo

Anarca, feminista, vegana, cat lady, bookworm, roller derby, hiperbólica, entusiasta das plantas e constante aprendiz. Rainha de paus, professora de história, amante de histórias. Meu peito é de sal de fruta fervendo num copo d'água. ♀️✊Ⓥ

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Aline Aimée
16 de novembro de 2011 2:13 pm

Li “O velho e o mar” somente, mas há tempos que quero fazer um intensivão do Hemingway! Por qual vc me indicaria começar?
Beijinhos!

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7 de dezembro de 2011 6:36 pm

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30 de dezembro de 2011 8:06 pm

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